As verdadeiras origens deste famoso conto são muitas vezes pouco conhecidas– e por vezes perturbadoras.

SÁBADO, 26 DE SETEMBRO DE 2020

POR MANAL KHAN

Conteúdo: nationalgeographicbrasil

Em 1992, a versão de animação de Aladdin, da Disneychegou aos cinemas e o público apaixonou-se pelas aventuras de um órfão – o “diamante bruto” – que cruzou com um tapete voador, um gênio poderoso e uma princesa independente. O filme tornou-se um clássico, originando um musical na Broadway e um remake com atores reais. Mas quão fiel é o Aladdin do cinema à história original?

Aladdin é apenas um dos 1001 contos


Aladdin é um conto com séculos de idade que faz parte de uma história maior chamada As Mil e Uma Noites. Nessa história, a heroína, Sherazade, é casada com um rei assassino que mata as suas esposas um dia depois de se casar com elas. Para salvar a sua própria vida, Sherazade conta uma nova história todas as noites (Aladdin é uma de muitas) ao seu marido, mas nunca chega ao final, prometendo terminá-las mais tarde. Noite após noite, a curiosidade obriga o rei a retardar a morte de Sherazade, para descobrir o que acontece a seguir. Alguns dos contos mais famosos não são apenas Aladdin, mas também de Sinbad, O Marinheiro e Ali Baba.

Sherazade cativa o seu marido com histórias de embalar, em As Mil e Uma Noites.

Sherazade cativa o seu marido com histórias de embalar, em As Mil e Uma Noites.

FOTO DE ILLUSTRATION BY LEBRECHT MUSIC & ARTS, ALAMY

As Mil e Uma Noites não vêm apenas da Arábia


Datando até o século 5, estes contos têm origem nas culturas norte-africana, árabe, turca, persa, indiana e do leste asiático. No ano 947, o historiador árabe Al-Masudi descreve, por exemplo, uma grande coleção de mil contos de todo o mundo antigo que em persa se chama Hazar Afsana (Mil Histórias). As histórias circularam durante séculos, com novos contos populares e interpretações adicionadas ao longo dos anos.

Em 1712, o estudioso francês Antoine Galland traduziu uma versão árabe dos contos para francês. Galland acrescentou várias histórias novas que lhe foram contadas por um sírio, chamado Ḥanna Diyab, de Alepo; Aladdin e a Lâmpada Mágica foi um deles.

Aladdin não é de Agrabah


No texto de Galland e na popular tradução inglesa de 1885 de Richard Burton, Aladdin vive “numa cidade na China”. As ilustrações dos contos da era vitoriana retratam a história e as suas personagens como sendo chineses. O cenário e a etnia das personagens começou a mudar para a Arábia e Oriente Médio quando a história foi contada no início do século 20.

Aladdin vive com a sua mãe


Ao contrário dos filmes da Disney, nas Mil e Uma Noites Aladdin não é um órfão que vive na rua. O seu pai, um alfaiate, faleceu, mas a sua mãe, uma viúva pobre, ainda está viva. A mãe de Aladdin é quem primeiro esfrega a lâmpada e liberta o gênio.

Aladdin não é um “diamante bruto”


Na versão da Disney, Aladdin é inteligente, engenhoso e leal, mas é subestimado porque é pobre. Segundo Richard Burton, o “herói” é superficial, preguiçoso, ganancioso e facilmente absorvido por demonstrações de riqueza. O seu pai morre porque o filho se recusa a aprender um ofício.

O ator Robin Williams emprestou sua voz para o gênio na icônica animação de Aladdin em 1992.FOTO DE COURTESY AF SRCHIVE, ALAMY

Não existe um, mas sim dois gênios


Aladdin usa dois poderosos gênios nas Mil e Uma Noites. Um vive numa lâmpada mágica e o outro num anel mágico. Ambos os espíritos ajudam Aladdin em pontos diferentes da história, concedendo-lhe desejos e auxiliando-o a escapar de situações complicadas.

Existem três vilões

Aladdin da Disney enfrenta o terrível vizir Jafar, mas, no texto original, existem três vilões. O primeiro é um mago maléfico da África que se apresenta como o tio há muito perdido de Aladdin, para convencer o rapaz a recuperar a lâmpada. O segundo é irmão do mago, e é ainda mais aterrador. O terceiro é o filho do vizir, rival de Aladdin por também gostar da princesa.

A princesa já está noiva quando Aladdin a conhece

Original Oil On Canvas Artist Signed “Princess Scherazade” Portrait Lady Woman


Depois de vislumbrar o rosto da filha do sultão, chamada Badr al-Budur (e não Jasmine), Aladdin a persegue, esbanjando ofertas ao seu pai. O sultão aceita os seus dotes, mas casa a filha com filho do vizir.

Aladdin usa o gênio para raptar o jovem recém-casado e prende-o numa cela escura e fria, durante duas noites, até que o jovem implora para o casamento ser anulado, e o sultão cede ao pedido.

Existem muito mais do que três desejos

Com o casamento de Badr al-Budur anulado, Aladdin começa a seduzi-la com vários desejos do gênio, dando a ela e ao sultão ouro, jóias, um palácio maravilhoso, criados, soldados e belos cavalos. Quando finalmente se casam, os desejos continuam, com tesouros e riquezas se acumulando.

Existe uma sequência

Como qualquer bom filme, a história de Aladdin também tem uma segunda parte – mais ou menos. Depois de Aladdin e Badr al-Budur matarem o terrível mago (através de uma combinação de sedução, veneno e esfaqueamento), começam a viver felizes para sempre na China, até que o irmão mais poderoso do homem morto vai à China para se vingar.